Transmissão (Parte III) - Diferencial

O diferencial é o órgão que distribui o movimento oriundo da caixa de velocidades, para as rodas esquerda e direita do eixo de tracção (que pode ser dianteiro ou traseiro).

Este órgão é, provavelmente, uma das invenções mais brilhantes na mecânica automóvel.

Como facilmente se compreende, ao descrever uma curva, qualquer veículo vai ter de lidar com um problema muito óbvio: a roda do lado de fora da curva vai ter de percorrer um espaço maior que a sua "colega" do lado de dentro da curva. Se não existisse diferencial, o movimento obrigaria a que a roda do lado de fora fosse arrastada, pondo em causa a tracção e segurança do veículo.

 

O diferencial, através de um conjunto complexo de engrenagens, consegue lidar com o problema referido.

 

O veio que transporta o movimento oriundo da caixa de velocidades, "ataca" o diferencial pela sua Roda de Coroa. Para transmitir movimento à roda de coroa existe um pequeno carreto cónico designado por Pinhão de Ataque. Os semi-eixos, cujas pontas têm uma roda dentada (Planetários), recebem movimento por via da rotação da Roda de Coroa. Enquanto o veículo circula em linha recta, são estes os órgãos que asseguram o movimento.

Quando descrevemos uma curva, a roda do lado de fora percorre um espaço maior, (pelo que terá de acelerar) e a roda de dentro reduz a sua velocidade. Este efeito é transmitido aos semi-eixos (porque estão ligados às rodas) e que, por seu turno, o transmitem ao diferencial.

 

Como as rodas têm velocidades diferentes, entram agora em acção uns carretos denominados Satélites. Para colmatar a diferença de velocidades das duas rodas do eixo de tracção do veículo, o corpo do diferencial gira em torno dos satélites, absorvendo (compensando) esta diferença energética.

GENIAL!!!

 

 

 

 

 

Mas agora temos um problema ...

 

O diferencial é tão competente a permitir a diferença de velocidades entre as rodas esquerda e direita que, caso uma delas patine por falta de apoio ou atrito (óleo, gasóleo, lama durante um passeio de Todo-o-Terreno, etc...), o eixo fica totalmente sem tracção. 

Mas porque é que isto acontece ? 

Muito simples: se uma roda patinar, o diferencial absorve toda a sua energia e não consegue transmitir movimento à roda contrária - precisamente por "efeito diferencial" / "a própria invenção".

Então, e agora ?

Nada de grave, isto é uma característica e não um defeito. O pior que nos pode acontecer é estacionarmos o nosso carro em cima de areia da praia e, na altura de sairmos, uma roda começa a "escavar" o terreno e a outra ficar imobilizada.

 

 

 

 

Se já lhe aconteceu, então deve ter percebido este fenómeno.

 

Quando assim for, coloque um dos tapetes do seu carro ou uns ramos de caruma por debaixo da roda que está a patinar. Ao movimentar o carro faça-o devagarinho (meia embraiagem) para poder ganhar tracção na roda em perda e já consegue sair.

 

 

 

 

No entanto, há alguns construtores que ao produzirem veículos Todo-o-Terreno ou de vocação desportiva, não podem deixar que exista este tipo de insuficiência característica do diferencial – devido às condições em que vão ser utilizados.

Veja só a "barraca" que seria se um veículo Todo-o-Terreno ficasse totalmente imobilizado no meio de uma floresta, só porque "apanhou" um bocadinho de lama numa das rodas !?

Estou a imaginar o proprietário ...

Comprei eu esta porcaria !!!? O vendedor disse-me que isto andava em todo o lado !!!? Ai que o malandro vai ouvir-me assim que o encontrar.

Nestes casos, adopta-se um diferencial denominado por Autoblocante.

Este tipo de diferencial tem uns discos colocados junto aos planetários (carretos das pontas dos semieixos). Quando existe a patinagem de uma das rodas, a aceleração criada centrifuga os discos, cria pressão de uns contra os outros (criando um efeito de colagem "tipo embraiagem") e transmite-se tracção/movimento à roda contrária à que está a patinar.

Perante este efeito, o eixo mantém-se com tracção e o veículo sai da situação de dificuldade.

 

Ainda existe um" truque" adicional para lidar com condições extremas de falta de tracção.

Este fenómeno pode acontecer em duras condições de utilização de veículos em Todo-o-Terreno ou no caso de camiões que têm de fazer movimentação de terras em estaleiros com terrenos muito pantanosos.

O órgão que se utiliza nestas condições extremas denomina-se por Bloqueio do Diferencial.

Como o próprio nome indica, o bloqueio do diferencial BLOQUEIA o diferencial. Trata-se de um mecanismo que é accionado electricamente ou de forma electro-hidráulica e inibe o diferencial de funcionar. Pelo facto, a diferença de velocidades entre as rodas de fora e de dentro deixa de existir. Como as rodas passam ter velocidades iguais, o eixo comporta-se como um eixo rígido - obtendo-se assim uma elevada quantidade de tracção.

Agora, muita atenção: quando se acciona o bloqueio de diferencial, o eixo fica rígido. Após a saída do veículo da situação difícil de aderência é obrigatório desligar o sistema.

 

Porquê???

 

Porque, se eventualmente, nos esquecermos de desligar o sistema, a primeira curva que fizermos com o veículo vai, GARANTIDAMENTE, "desfazer" o diferencial!!!

 Porquê???

 

Porque o eixo de tracção, ao comportar-se como um eixo rígido, não vai permitir que haja diferença de velocidades entre as rodas de fora e de dentro. Ora, a primeira curva que for efectuada vai obrigar a que as rodas circulem a velocidades diferentes. Caso assim aconteça, quem vai ceder é o próprio diferencial – ficando completamente danificado.